Seguidores

domingo, 31 de agosto de 2025

SANTA INÊS DE ANTIGAMENTE ( UM POEMA-RELATO)

 

imagem da internet

As catadeiras de café,

Viajavam de pau de arara,

Agasalhadas e com chapéus,

Iam cumprir suas jornadas.

 

Quando alguém adoecia,

Convocava-se a rezadeira.

Esta com a sua rezaria,

Espantava a “doenceira”.

 

A cabocla Perola.

Que só vivia enfeitada,

Não era boa da cachola,

Sofria bullying da gurizada.

 

Lavadeiras acocoradas à beira rio,

Mãos calejadas da vida.

Suas mágoas em cantoril,

De emoção esvaiam.

 

“Lata d’água na cabeça”,

Labuta da aguadeira.

Do alvorecer até que anoiteça,

Sobe e desce ladeira.

  

Minha avó Ana, mulher rendeira,

Sabia os bilros manejar.

Dia e noite de canseira,

Para as grã-finas do lugar.

 

Doutor Emídio, médico familiar.

Olhava o paciente, previa a cura.

Pronto atendimento domiciliar.

Que ser humano! Que alma pura!

 

O intelectual Rogério Duarte,

Hábil moço ubairense.

Aqui encontrou sua arte,

Deixou-nos recentemente.

 

O saudoso trem de ferro.

Apitava com graduada mansidão,

Na altura do corte de pedra,

Levando um partido coração.

 

Cinema?! Tínhamos também,

Onde passeavam Romeu e Julieta,

Trocando juras do bem,

Na famosa historieta.

  

No tempo do chafariz,

Não tinha banho de chuveiro.

Na gamela ou na bacia,

E devia ser ligeiro.

 

Palacetes foram erguidos,

Por fidalgos em tempos áureos.

Ainda hoje, imponentes, na avenida,

Brilham olhos como láureos.

 

Nosso rio Jiquiriçá,

Ostentava seu vigor.

Com cardume de jundiá,

Fazia a alegria do pescador.

 

Pelas bandas da Lagoa Queimada,

Supunha ter cristal de rocha.

Seria a nossa Serra Pelada?

Sonho de toda cabrocha!

 

O caçador da madrugada.

Que valentão acostumado!

Encontrou onça pintada,

E ficou todo borrado!

 
 

A meninada brincava na rua,

Livre para correr e pular.

Sem asfalto, terra crua.

Hoje só nos resta lembrar.

 

As festas de carnaval,

No Clube Cultural,

Onde a moçada adorável,

Fazia seu festival.

 

Murta, jabuticaba, umbu.

Ouricuri, cajá, azedinha.

Manga, tamarindo e caju,

Sem esquecer a fruta pinha.

 

Fumo, sisal e café,

Diferencial econômico.

Um bom canapé,

Para um descanso dinâmico.

 

As serenatas pelas madrugadas,

Traziam o som menestrel,

Aos corações das namoradas,

Na voz da turma de Samuel.

 

 O Góes Calmon tradicional,

Colégio público da cidade.

Lá estudei a cartilha inicial,

Quando de tenra idade.

 

O juiz de direito, Dr. Hélio,

Homem de visão dimensional.

Junto com o promotor, Dr. Nélio,

Fundaram o Ginásio Comercial.

 

Usou as instalações obsoletas,

De um hospital inacabado.

E na evidência de suas facetas,

Viram o colégio inaugurado.

 

Abriam-se os festejos da primavera,

Com desfile pomposo.

E a molecada ansiosa, na espera,

Dos alegres dias de jogo.

 

Os jagunços e coronéis,

Protagonizavam horror.

Cada qual em seus papéis,

Não lhes importavam a dor.

  

Padre Gilberto Pithon,

Pároco de fé verdadeira.

Implicava com as festas profanas,

No dia da padroeira.

 

O parque atrás da prefeitura,

Fazia a magia juvenil.

O mini carrossel, que aventura!

Era o lazer infantil.

 

Grandes homens deu a terra.

Neste rincão enevoado,

Aqui representados por três feras*

Genésio, Aurélio, Manoel Valdo.

  

No café bar de Joãozinho,

Onde se ouvia voz e violão,

Entre uma sinuca e o cafezinho,

Cabia só exaltação.

 

Nos domingos de futebol,

Com belos e bons ataques,

Lá pelo cair do sol,

Todos aplaudiam seus craques.

 

Quanta coisa na memória,

Oh, Santa Inês resoluta!

Aos noventa e dois anos de história,

Um filho teu “não foge à luta”.

  

A. Roberto/ TUNIN - 26.10.2016. Ilhéus-Ba. 

Observação: Gostaria de citar todos os que fizeram história, nesta terra amada, mas pela impossibilidade e espaço, representei-os, apenas, por três.

Sr. Genésio é meu pai e foi o primeiro fiscal geral do município. 

Sr. Manoel Valdo, empresário, dono da farmácia Excelsior.

Sr. Aurélio, de tradicional família, dono de antiga loja de tecido.

* no sentido de competência.

Nenhum comentário: